‘Começou o expurgo’: redes bolsonaristas no Telegram vivem barata-voa após bloqueio do STF
Bolsonaristas entraram em um verdadeiro clima de barata-voa na tarde com a derrubada de dezenas de grupos do Telegram nesta quarta-feira (11). O bloqueio dos chats, determinado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, pegou muitos apoiadores de surpresa e gerou uma corrida a alternativas, como o aplicativo de mensagens Signal.
O clima, porém, é de muita desconfiança e paranoia. Ainda no calor das prisões de bolsonaristas terroristas em Brasília, que agitavam o Telegram nos últimos três dias, a medida do Supremo caiu como uma bomba. Nos grupos criados em substituição aos bloqueados, há um temor nunca visto com a presença de “infiltrados” e “esquerdistas” que possa levar à prisão de mais apoiadores de Bolsonaro.
“Não teria como fazer um filtro para a entrada nos grupos do Signal? Eu não confio em mais ninguém”, lamentou um bolsonarista. “Meu coração transborda de tanta tristeza, medo e depressão. Tô apavorada com o que vem pela frente. Vou perder os meus filhos pra esse comunismo maldito”, respondeu uma apoiadora de Bolsonaro.
A deliberação de Moraes foi uma resposta a um pedido da Advocacia-Geral da União no STF na última terça-feira. Como antecipamos ontem, o governo Lula detectou uma nova ameaça golpista nas redes e entregou ao Supremo uma lista de 46 grupos do Telegram com conteúdo golpista.
Invasão em Brasília: veja os bolsonaristas já identificados
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Apoiadora de Bolsonaro, a youtuber chegou a fazer transmissões ao vivo; ela foi exonerada de um cargo na EBC 2 de 89
O ex-BBB Adriano Castro, conhecido pelo apelido Didi Red Pill, participa de atos golpistas em Brasília X de 89
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Tenista suspenso por doping, Gustav Klier esteve em atos terroristas em Brasília com a namorada Vitoria Gonçalves 4 de 89
Sobrinho de Bolsonaro e muito amigo de Carlos, filho do ex-presidente, Leo Índio postou foto em meio aos atos X de 89
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Pâmela Bório, ex-primeira-dama da Paraíba, compartilhou imagens dela, do filho e de outros bolsonaristas invadindo o Congresso 6 de 89
Responsável pelo Departamento de Logística do Ministério da Saúde no governo Jair Bolsonaro, o general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes participou dos atos X de 89
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Luis Gonzaga Militão é ex-secretário adjunto Antidrogas e Direito Humanos de Divinópolis (MG), onde também foi candidato a prefeito 8 de 89
Bolsonarista ferrenha, Aline Bastos é suplente da Câmara dos Deputados e presidente do PL em Montes Claros X de 89
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Assessor do Ministério da Defesa entre 2013 e 2022, o capitão reformado da Marinha Vilmar José Fortuna também foi flagrado nos atos com a esposa 10 de 89
O vereador de Inhumas José Ruy (PTC) apareceu em um vídeo que viralizou nas redes sociais X de 89
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Gilson da Autoescola é vereador em Betim (MG) e levou a família para os atos no Congresso Nacional 12 de 89
Zuleica Portes Machado é servidora pública em Paty do Alferes (RJ) X de 89
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Thiago Queiroz foi candidato derrotado a deputado estadual e é presidente do PL em Patos de Minas 14 de 89
Marcos Alexandre Mataveli de Morais é ex-vice-prefeito de Pancas (ES) X de 89
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O casal Juliano Antoniolli e Luane Grotta em foto com Jair Bolsonaro nos EUA, à esquerda, e depois os dois participando do ato 16 de 89
Fabrizio Cisneros é político bolsonarista do Mato Grosso e, encapuzado, fez diversas transmissões ao vivo durante o ato X de 89
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Bruno Freire é ex-candidato a vereador de Paulo Afonso (BA) 18 de 89
Dr. Silvio é presidente do PL em Monte Azul (MG) X de 89
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Clesio Ferreira é professor e ex-candidato derrotado a prefeito de Ouro Preto (MG) 20 de 89
Gilberto da Silva Ferreira é mecânico e suplente de vereador em Nova Santa Rita (RS) X de 89
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Perpétua Aguiar é fisioterapeuta e candidata derrotada a deputada estadual no Ceará 22 de 89
Salomão Vieira é cantor gospel e um dos financiadores dos atos golpistas de domingo X de 89
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Tania Maion é ex-candidata a deputada federal do Paraná 24 de 89
Mari Bizari é ex-candidata a deputada estadual (SP) X de 89
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Adriano Camargo Testoni é coronel da reserva e xingou oficiais das Forças Armadas em vídeo que circula nas redes 26 de 89
O pastor Edson Xavieré braço direito do prefeito de Águas Lindas (GO) e secretário das Relações Institucionais na gestão atual X de 89
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Lucimário Benedito Camargo é presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Rio Verde (GO) 28 de 89
Comerciante alagoano, André do Maria Gorda — Foto: Reprodução X de 89
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Ana Priscila Azevedo é líder de um grupo no Telegram com milhares de membros 30 de 89
Juliana Siqueira é uma influenciadora de direita que teve seu perfil no Instagram derrubado após decisão de Alexandre de Moraes X de 89
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Diana Karla Ribeiro Soares é servidora comissionada da Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa) 32 de 89
Silvério Santos é PM em Goiás X de 89
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O vice-prefeito de Porangatu, Marcilio Costa Pires, mais conhecido como Capitão Pires (PL), também esteve nos atos golpistas 34 de 89
Márcia Angelina de Jesus é servidora pública em Goiás X de 89
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Kennedy Alves é bolsonarista radical de Alpinópolis (MG) 36 de 89
José Donizete Corrêa é ex-candidato a vereador em Três Corações (MG) e perdeu um dente durante a invasão X de 89
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Edmar Miguel, conhecido como Miguel da Laranja, é de Areado, no Sul de Minas 38 de 89
Francisco Donizete da Silva, conhecido como Xico Lanche, é de São Sebastião do Paraíso (MG) X de 89
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Aline Monteiro Roque é empresária de Areado (MG) 40 de 89
Franklin Guerra é servidor público da Guarda Municipal de Itajubá (MG) X de 89
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Jesiel Carrara, do Conselho Tutelar de Maringá (PR), gravou a marcha até a Praça dos Três Poderes 42 de 89
Erlon Paiotta Ferrite é chefe do serviço de ambulâncias de Penápolis (SP) X de 89
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Guarda municipal em Foz do Iguaçu (PR), Joelson Sebastião Freitas se identifica como "Joelson Bolsolavista" nas redes 44 de 89
Fátima Mendonça - senhora de 67 anos que gravou vídeo ameaçando Alexandre de Moraes — Foto: Reprodução X de 89
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Alcimar Francisco da Silva: Gravou live com o retrato de Bolsonaro retirado da galeria de ex-presidentes do Palácio do Planalto — Foto: Reprodução 46 de 89
Cabo Correa já tinha invadido o Congresso em 2016 — Foto: Reprodução X de 89
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Camila Mendonça Marques é empresária de Santa Catarina — Foto: Reprodução 48 de 89
Daniel Muller Xerife é ex-candidato a deputado estadual de SP — Foto: Reprodução X de 89
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Edina Cordeiro, de Rondonopolis (MT) — Foto: Reprodução 50 de 89
Samuel Faria sentou na cadeira de Rodrigo Pacheco, presidente do Senado Federal — Foto: Reprodução X de 89
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Thiago Bezerra é um pastor goiano — Foto: Reprodução 52 de 89
Gisele Guedes — Foto: Reprodução X de 89
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Moyses Douglas Zaramella — Foto: Reprodução 54 de 89
Alexandra Moscoso — Foto: Reprodução X de 89
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Ex-vereador e PM da reserva Josafá Ramos — Foto: Reprodução 56 de 89
Vânia Regina Mielke — Foto: Reprodução X de 89
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Alessandra Faria Rondon foi presa em flagrante — Foto: Reprodução 58 de 89
Felicio Quitito — Foto: Reprodução X de 89
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Rafael Faus — Foto: Reprodução 60 de 89
Simone Tosato — Foto: Reprodução X de 89
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Karoll Dias — Foto: Reprodução 62 de 89
Aline Magalhães — Foto: Reprodução X de 89
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Pastor Paulo Silva — Foto: Reprodução 64 de 89
Ederson Diniz — Foto: Reprodução X de 89
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Edson Feitosa — Foto: Reprodução 66 de 89
João Salas — Foto: Reprodução X de 89
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Luciano Oliveira dos Santos — Foto: Reprodução 68 de 89
Luiz Fernandes Ferreira — Foto: Reprodução X de 89
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Mathews Lukkas Phellype — Foto: Reprodução 70 de 89
Rodrigo Raul Tara e Janaina Aparecida da Silva — Foto: Reprodução X de 89
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Romario Garcia — Foto: Reprodução 72 de 89
SERGIO BRUCUTU — Foto: Reprodução X de 89
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Dayanne Muhammad — Foto: Reprodução 74 de 89
roniclei teixeira — Foto: Reprodução X de 89
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EDUARDO ARANTES BARCELOS — Foto: Reprodução 76 de 89
Advogado Francisco Andrade da Conceição — Foto: Reprodução X de 89
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Nelma Barros Braga Perovani — Foto: Reprodução 78 de 89
Rieny munhoz marçula, de Campinas — Foto: Reprodução X de 89
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Gabriela Lage e Yago Sampaio Nobre — Foto: Reprodução X de 89
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Marta Calliari de Gravataí — Foto: Reprodução 82 de 89
Luciana Novaes — Foto: Reprodução X de 89
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Marcos Poggetti de Menezes — Foto: Reprodução 84 de 89
Robson Stenpim — Foto: Reprodução X de 89
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Edmara Cardin Teixeira — Foto: Reprodução 86 de 89
Vanessa Harume Kakasaki — Foto: Reprodução X de 89
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VERI MENDES — Foto: Reprodução 88 de 89
Caio Enrico Lima — Foto: Reprodução X de 89
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Wallace França — Foto: Reprodução
Capital federal foi palco de barbárie generalizada, com ataques ao Palácio do Planalto, ao Congresso Nacional e ao STF
O aplicativo russo é a principal forma de comunicação do bolsonarismo atualmente. Diferentemente do WhatsApp, o Telegram permite grupos com dezenas de milhares de participantes e promete maior privacidade, entre outras funcionalidades.
O Signal já havia se tornado popular entre integrantes do STF e parlamentares após o vazamento de diálogos comprometedores entre procuradores da Lava-Jato e o então juiz Sergio Moro, no episódio que ficou conhecido como Vaza-Jato.
Moraes já havia determinado bloqueios de grupos do Telegram na condição de magistrado do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas, na ocasião, as ações foram bem mais restritas.
A maior preocupação dos bolsonaristas era que a obtenção de informações sobre os terroristas presos em Brasília em função dos ataques de 8 de janeiro ficasse prejudicada.
“Sem os grupos do Telegram vai ficar mais difícil receber os vídeos de lá. Demoram para chegar no Twitter”, escreveu uma bolsonarista no Signal. “Vão cair no esquecimento”, lamentou outra. “A minha única preocupação hoje é como tirar esses irmãos daquele lugar. Estou me sentindo um lixo”, declarou uma terceira.
Alguns administradores de grupos tentaram mudar o nome para driblar a decisão do STF, sem sucesso - cada chat é identificado por um código único e a relação da AGU, com 46 listados, foi repassada à corte. Outros membros chegaram a apelar, em desespero, para que o nome fosse alterado - sem sucesso.
“Estão derrubando os grupos. Começou o expurgo”, escreveu um bolsonarista com o print de chats já bloqueados por determinação do TSE. “Tempos sombrios. O que faremos?”, respondeu outro.
O monitoramento da equipe da coluna identificou, no entanto, a criação de novos grupos com títulos sem relação com a política ou o bolsonarismo, em uma tentativa de despistar novas decisões do STF e o monitoramento de setores de inteligência.
Entre os chats aparentemente inofensivos estavam “O baú secreto do vovô” e “Grupo Erva Sidreira (sic) e Boldo”.
Diante do bloqueio em massa, participantes de grupos que continuavam no ar se articularam para criar redes similares no Signal. Apesar de rápida, a adesão não foi maciça - o processo envolve a instalação de um novo aplicativo e um cadastro, o que demanda alguma disponibilidade no momento da migração.
No Signal, também foram adotados nomes aleatórios como “Aquarela” e “Salvação”. Nos primeiros minutos após a criação, muitos tentavam se familiarizar com o aplicativo e pediam ajuda aos demais.
Uma pergunta, no entanto, era onipresente nos chats que surgiram na tarde de hoje.
“Alguém sabe se esse tal de Signal pode ser derrubado pelo ‘cabeça de ovo’?”, questionou um bolsonarista, em uma referência jocosa a Alexandre de Moraes. “Aqui não dá para derrubar, é só o Telegram”, respondeu um deles.
Apesar do tom incendiário das mensagens replicadas no Telegram nesta semana, o pessimismo imperou nos chats na tarde desta quarta, após o bloqueio dos grupos. Alguns falavam em deixar o país e pleitear cidadania estrangeira, e outros davam como descartada a possibilidade das Forças Armadas intervirem para derrubar o governo eleito.
Isso, no entanto, não impediu os bolsonaristas de fomentar ataques aos Poderes constituídos. Em um dos chats do Signal monitorados pela equipe do blog, alguns seguidores de Jair Bolsonaro elaboraram a tese de que o PT poderia ser derrubado do poder, não fosse a figura de Alexandre de Moraes.
“Tinha que morrer”, escreveu uma extremista. “Mas vai (morrer), em breve. Amém”, respondeu outra. “Deus te ouça. Que alguém acabe com ele”, retrucou a primeira.
Ainda é cedo para determinar se o Signal se tornará o novo paraíso bolsonarista nas redes. O aplicativo é conhecido pelos termos de uso que dizem proteger os dados e a privacidade de seus usuários - premissa similar à do Telegram, que adotou uma postura omissa no país até aceitar colaborar com a Justiça Eleitoral, em 2022, sob ameaça de um bloqueio nacional.
Fato é que, em um momento sensível para a democracia brasileira e as forças de segurança, a mobilização exigirá alguma adaptação por parte das autoridades.